Em dezembro, somos inundados por textos, filmes, vídeos e imagens que dizem a mesma coisa: a importância da renovação e do renascimento. É o nascimento do menino Jesus, uma comemoração da vida. Independente da crença, somos levados ou sensibilizados aos encontros familiares. Nesse panorama, vale a pena falarmos sobre as cadeiras vazias nas nossas ceias de Natal e o espaço permanente deixado pela morte.
Torna-se contrastante falar, e mais ainda sentir, a dor da morte nesses momentos. Somos cobrados a ser gratos e felizes, a esconder as dores e a solidão. É irônico, pois são nas datas comemorativas que o luto mais se manifesta: a risada que não será mais ouvida, a comida favorita de alguém que não estará na mesa, os ritos construídos ao longo dos anos que deixam de existir.
Ao meu ver, toda morte é repentina. Não me leve a mal, mas nada nos prepara para a nova vida, baseada na saudade e no que não existirá mais.
Agora, vou abrir um parêntese sobre uma vivência pessoal: este ano será meu primeiro Natal sem nenhuma das meus avôs no plano material. É um momento de redescobrir novos ritos, ao passo que lido com a falta gritante — a falta de quem eu era. Sem meus avôs, não sou mais a mesma. Me peguei refletindo sobre quantas pessoas nunca me conhecerão ou sobre as que já não me reconhece, pois com cada partida — e foram muitos esses dois últimos anos —, mudei a forma de ver o mundo e as pessoas.
Quando nos tornamos esse novo ser, a encenação do Natal se reconfigura. Eu me solidarizo com sua dor, seu caminho de autodescoberta pós-luto e por quem você é hoje. Então, agora em dezembro, a ELA vai mudar um pouco a lógica: ao invés de uma lista de filmes de Natal, vamos trazer uma lista de obras para te ajudar a lidar com o luto.
Filmes
A Cabana
Sei que esse filme é um clássico tanto da literatura quanto do audiovisual, mas vale a indicação. Apesar de ser uma obra religiosa, a trama cativa ao apresentar uma história.
A obra conta a história de um pai que precisa lidar com a morte precoce de sua filha, assassinada durante um acampamento. O corpo da menina nunca foi encontrado, e o pai sente um chamado para voltar à cabana onde ela desapareceu. Lá, ele recebe uma transformação transformadora.
O filme tem grande potencial para ajudar a identificar as fases do luto e pode ser um ponto inicial para compreender a partida daqueles que amamos.
O Quarto do Filho
O filme narra a história de um psicanalista e sua família enquanto tentam superar o trauma da morte acidental de um dos filhos. O pai se sente culpado, enquanto a mãe e a irmã se isolam em sua própria dor, até que uma visita inesperada força a família a confrontar seus sentimentos.
A trama retrata a fragmentação familiar e como isso dificulta o compartilhamento da dor, algo essencial para superar momentos tão difíceis.
Viva – A Vida É uma Festa
Esse filme explica a morte de forma lúdica para as crianças. "Viva" aborda o luto de maneira alegre e colorida, mostrando que a memória é onde mantemos o carinho por aqueles que já partiram. Enquanto forem lembrados, eles nunca deixarão de existir.
Up – Altas Aventuras
Lançado em 2009, é um filme sobre o luto de Carl, um idoso que vive em profunda tristeza após perder sua amada esposa, Ellie. A única motivação de Carl é realizar o antigo sonho de Ellie: mudar-se para a América do Sul. Contudo, uma amizade inesperada com um garoto de 8 anos se transforma na forma como ele lida com o luto.
Soul
Neste filme da Pixar, um aspirante a músico chamado Joe morre acidentalmente e vai parar em um reino entre a vida e a morte. Ele reflete sobre sua própria existência e propósito, explorando o significado da vida e da morte de maneira leve e filosófica.
Livros
Notas sobre o Luto — Chimamanda Ngozi Adichie
Essa obra me levou a uma jornada sobre como são os ritos da morte na minha própria comunidade e como o luto pode ser ao mesmo tempo semelhante e diferente para cada pessoa. A autora fala sobre seu processo de luto pela morte do pai em um contexto pandêmico.
Como Lidar com a Morte e o Luto — Dra. Elaine Gomes dos Reis Alves
O livro aborda os vários tipos de perdas e suas dimensões: sociais, históricas, suicídios, mortes violentas e desastres. Trata também do impacto da pandemia na saúde mental e no luto, instalado como um guia prático para profissionais e indivíduos.
Tudo Bem Não Estar Tudo Bem: Vivendo o Luto e a Perda em um Mundo que Não Aceita o Sofrimento — Megan Devine
Depois de vivenciar o luto como terapeuta e, sobretudo, após a morte de seu companheiro, Megan Devine desconstrói a ideia de “voltar ao normal” após uma perda. A obra fala sobre a constante tentativa social de ignorar o luto e sobre a coragem de viver a dor em uma sociedade que preza pela felicidade aparente.
Acessar temas complexos como a dor do luto por meio da arte pode ajudar a compreender sentimentos e dar vazão a eles. Sei que, neste mês, os sentimentos se afloram, mas você vai conseguir. Este período pode ser revisto como uma época para lembrar os bons momentos e criar novos.
Comments