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Ainda Estou Aqui e a Valorização do Cinema Nacional

Foto do escritor: Caroline OliveiraCaroline Oliveira


A estreia de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, no Festival de Veneza, trouxe esperança de um novo capítulo na história do cinema brasileiro. Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o filme mistura a memória histórica do regime militar com a jornada emocional de Eunice (Fernanda Torres), criando uma obra que conversa com públicos de todas as nacionalidades. Sua recepção calorosa é um lembrete de que o cinema nacional tem o poder de narrar histórias locais que ecoam globalmente.

Entretanto, a jornada para o reconhecimento internacional, especialmente em premiações como o Oscar, ainda é árdua para obras estrangeiras. A história mostra como a indústria cultural estadunidense consolidou sua hegemonia, muitas vezes deixando de lado produções brilhantes de outras partes do mundo. Filmes como Roma (2018) e Parasita (2020) romperam essa barreira, mas são exceções em um sistema que privilegia narrativas americanas. O Brasil, mesmo com uma vasta tradição cinematográfica, luta para ter sua voz plenamente ouvida.

O sucesso de Ainda Estou Aqui destaca a importância de resistirmos ao imperialismo cultural que domina a sétima arte. Reconhecer e valorizar produções de fora do eixo hollywoodiano é essencial para democratizar o acesso às narrativas do mundo. Obras como esta nos convidam a refletir sobre nosso passado e enxergar além da "barreira de uma polegada das legendas", como bem disse Bong Joon-Ho ao receber seu Globo de Ouro por Parasita.

O filme Ainda Estou Aqui marca um importante momento de retomada do público brasileiro aos cinemas após o período crítico da pandemia. Com uma bilheteira recorde de mais de R$ 49,1 milhões e mais de 2 milhões de espectadores até o início de dezembro, a produção não só se destaca pelo sucesso financeiro, mas também pela maneira como reacende o sentimento de identidade nacional.

A história reverbera temas profundamente conectados com a sociedade brasileira, resgatando questões culturais, sociais e emocionais que tocam o público de forma imediata e visceral. Ao tocar em temas universais, como o luto, o filme também propõe uma reflexão sobre a memória do nosso país, muitas vezes negada. Esse retorno ao cinema, em um contexto de atentado ao STF e o saudosismo a um passado sórdido, parece reforçar a importância da arte como um elo de união e redescobrimento da história.

Ao recuperar a bilheteira mais expressiva pós-pandemia, o filme não apenas conquista o público, mas também resgata um sentimento coletivo de pertencimento e orgulho cultural, algo essencial em tempos tão caóticos.



Cinema e Imperialismo no Brasil: Uma Relação de Domínio e Resistência

O cinema, um dos meios de comunicação de massa mais antigos, teve, no Brasil, um impacto significativo tanto cultural quanto econômico. Diferentemente da imprensa, que demanda alfabetização, o cinema conseguiu atingir uma vasta audiência, moldando comportamentos e consolidando sua posição como instrumento de influência cultural. Entretanto, essa influência foi, por longos períodos, marcada por uma dependência externa, em que o Brasil desempenhou um papel de mercado consumidor para a produção estrangeira, especialmente a norte-americana, enquanto lutava para estabelecer uma indústria económica nacional.

A penetração do cinema estrangeiro, especialmente o americano, no Brasil foi estratégica. Como apontou Alex Viany, os monopólios norte-americanos controlavam o mercado de distribuição, dificultando a exibição de filmes nacionais e perpetuando um ciclo de dependência. Além disso, práticas como a associação de filmes nacionais a pacotes de filmes estrangeiros de baixa qualidade diluíam os lucros locais e inflacionavam os custos de produção. A criação de fundações como a Latin American Performing Arts Foundation, embora ostensivamente externa para promover o cinema local, na prática buscava explorar mão de obra barata e controlar mercados emergentes.

Apesar dos desafios, o cinema brasileiro declarou resiliência. Na década de 1960, a produção local começou a ganhar força, com mais de 70 filmes sendo lançados anualmente e o Brasil se consolidando como um dos principais mercados cinematográficos do mundo. Os cineastas reivindicavam maior reserva de mercado para filmes nacionais e destacavam a relevância do setor como gerador de empregos e promotor da cultura brasileira.

Essa luta por espaço e autonomia no mercado cinematográfico dialoga diretamente com os desafios de adaptação de clássicos da literatura nacional no ambiente escolar. Ambos os contextos revelam a importância de resistir à homogeneização cultural e de valorizar as narrativas locais como forma de fortalecer a identidade e a soberania cultural. Assim como no cinema, iniciativas educacionais que promovem a criatividade e o pensamento crítico podem se tornar ferramentas poderosas para contrapor as influências externas e construir uma cultura verdadeiramente brasileira.


 
 
 

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