4ª Edição da Feira Literária de Andaraí celebra “Narrativas e Oralidades na Serra do Sincorá”
- Diosvaldo Filho
- 6 de abr.
- 5 min de leitura
A razão de ser de uma festa literária está em provocar nas pessoas novas formas de caminhar ou sonhar, até mesmo levá-las a descobrir outros caminhos possíveis.
Nas entranhas da Serra do Sincorá, o tempo esculpiu vales profundos e escarpas imponentes, revelando na pedra a memória dos dias. São camadas de histórias gravadas em arenitos e quartzitos, onde antes cintilavam diamantes e carbonados. Hoje, não mais a ganância das lavras, mas o brilho das palavras ressoa entre os ventos e as águas que descem das chapadas. O território que a geologia desenhou com sua força é também palco de narrativas vivas, trançadas na oralidade dos povos que aqui fincaram raízes.
É com essa certeza e com bastante alegria que abrimos os caminhos para a 4ª Edição da FLIAN – Feira Literária de Andaraí, que acontecerá entre os dias 24 e 26 de abril de 2025, no coração desse território de identidade. Com o tema "Narrativas e Oralidades na Serra do Sincorá", o evento propõe um mergulho nas histórias que ecoam das comunidades tradicionais, das matrizes afro-indígenas que moldam a Chapada Diamantina e de um povo que transforma a palavra em resistência e pertencimento.

Nesta 4ª Edição, a FLIAN, sediada na cidade natal do jornalista e escritor Herberto Sales, vem enfatizar a linguagem e a memória da Serra do Sincorá em um recorte das lavras diamantinas, cujas narrativas estão presentes nas obras de escritores genuinamente chapadeiros como o próprio Herberto Sales, Afrânio Peixoto, Fernando Sales, Joaquim Coutinho, Ângela Vilma, Gislene Moreira, Mirandi Oliveira, Lísias Azevedo, Micaela Ramos, Delmar Araújo, Juvenal Payayá, José Leopoldo Albuquerque, Irapuã Casil, Fábio Diógenes, Roberto Gomes, entre tantos e tantas.
Programação da Feira Literária de Andaraí
A FLIAN, que tem como lema contínuo “A leitura faz andar o mundo”, promete atrair visitantes locais, regionais e turistas com uma programação repleta de atividades culturais e literárias. Com acesso gratuito, a 4ª edição do evento se destacará por sua diversidade, incluindo conferências, rodas de conversa, lançamentos de livros, oficinas, contação de histórias, homenagens e apresentações artísticas com atrações musicais, espetáculos de teatro e saraus artístico-literários.
Emílio Tapioca, coordenador geral da Feira, enfatiza a importância do evento como um espaço de aprendizado e troca de experiências, reforçando o compromisso de promover o respeito e a valorização da diversidade cultural. “As novas gerações precisam conhecer e reconhecer que somos um povo multiétnico e, como tal, devemos respeitar e valorizar a diversidade cultural brasileira. A FLIAN 2025 se propõe a ser um espaço de aprendizado, troca de experiências e fortalecimento das identidades culturais, promovendo o respeito e a inclusão”, afirmou Tapioca.

Um dos destaques da programação será o espaço Flianinha, voltado para o público infantil. Este espaço visa reforçar a cidadania cultural e ajudar a potencializar a identidade e autoestima das crianças, ao proporcionar o conhecimento de culturas diversas. A proposta é ensinar desde cedo o respeito pelas tradições, hábitos, religiões e formas de pensar de outros povos, ampliando a visão das novas gerações sobre a riqueza cultural brasileira e regional. Destaca-se a contação da história “As Aventuras de Chicó”, da contadora Mô Moreira, escritora chapadeira.

Outra atração da FLIAN 2025 será o Fliancine, uma mostra de curtas-metragens que trará à tela temas culturais diversos, com um olhar especial para o universo chapadeiro. A programação contará com sessões voltadas para crianças e adultos, promovendo o cinema como ferramenta de diálogo e reflexão sobre a identidade regional. Com curadoria e mediação em parceria com o Facine – Festival de Cinema Ambiental da Chapada Diamantina, as exibições proporcionarão um espaço de debate e troca de experiências entre realizadores e o público, ampliando o alcance das narrativas audiovisuais e reforçando a importância do cinema na preservação da memória e dos saberes locais. No espaço da Fliancine receberemos filmes como “Com quantas estrelas se cria um céu aberto: Terno de Reis de Tonho de Lau”, “Benção”, “Ibejis” e “Estamos Vivos e Atentos - Mutirão Payayá”.
Além das atividades literárias, a FLIAN contará com a realização de uma Feira Popular, que irá expor e comercializar produtos da agricultura familiar, da agroecologia e da economia solidária. A feira também abrigará oficinas dos saberes e fazeres tradicionais, com um forte diálogo entre a cultura local e as atividades literárias. Essa integração tem como objetivo fomentar o empreendedorismo socioeconômico, cultural, ambiental e sustentável, dando visibilidade aos produtores e artesãos da região.
As atividades acontecerão no CETI - Colégio Estadual de Tempo Integral Edgar Silva, no Novo Mercado Municipal, na Biblioteca Pública Municipal Herberto Sales, no Espaço Cultural ASR e na Galeria Arte & Memória, em Igatu, com a curadoria de Cecília Mª Ribeiro da Silva e Kátia Borges, a coordenação acadêmica de Maria Cristina Dantas Pina, a coordenação artistíca de Pedro Sibas, a produção executiva de Alan Lobo e a coordenação administrativa de Keila Souza.
A 4ª edição da FLIAN homenageia andaraiense histórica e celebra 134 anos de emancipação política de Andaraí

Nesta edição, a FLIAN presta homenagem à ilustríssima Sra. Lícia Maciel Neves, nascida em 06 de maio de 1935 e falecida em 28 de dezembro de 2017. Lícia foi uma das maiores incentivadoras da leitura, do livro e da literatura, sendo uma das fundadoras da Biblioteca Pública Municipal Herberto Sales. Teve uma vida social ativa e participou de diversos eventos na cidade, destacando-se como membro atuante da ASRA - Associação Social Recreativa de Andaraí.
Lícia foi funcionária do estado, exerceu a profissão de professora até se aposentar, sempre se mostrando uma pessoa de caráter exemplar, solidária e dedicada ao incentivo à educação. Lícia incentivava os alunos a declamar poesias em festas cívicas e culturais, sendo reconhecida como uma importante referência da memória histórica das lavras diamantinas e uma defensora do patrimônio histórico municipal. Recebeu diversas homenagens em vida, incluindo o Certificado de Mérito Cultural emitido pelo Departamento de Cultura da Secretaria de Educação, Esporte e Cultura. Seu legado segue inspirando as futuras gerações.
Ainda durante a FLIAN, também será celebrado um marco importante para a cidade: os 134 anos de Emancipação Política do município de Andaraí. A programação contará com momentos especiais para homenagear a história, a cultura e as raízes da região, destacando a trajetória de luta e resistência do povo andaraiense. A data será lembrada por meio de atividades culturais, apresentações artísticas e debates que reforçam a identidade local, valorizando a memória coletiva e o papel da literatura e das artes na construção da cidadania e do pertencimento.
A FLIAN é promovida pela Viver Cultura e Meio Ambiente, que tem como objetivo contribuir para a difusão dos saberes culturais locais, além de fortalecer a economia solidária e promover práticas sustentáveis e inclusivas. O evento se consolida como um importante ponto de encontro para a comunidade e visitantes, celebrando a diversidade cultural da Chapada Diamantina e além.
A 4ª edição da FLIAN conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Andaraí, da Editora e TV ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia, da Fundação Cultural Pedro Calmon/ SECULT- BA, da Secretaria de Educação do Estado da Bahia sob a coordenação geral da Viver Cultura e Meio Ambiente e em parcerias com as Universidades públicas situadas neste Território de Identidade da Chapada Diamantina - Bahia (UEFS/UNEB/UESB).
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